ANTES (até semana passada) EU PENSAVA: MEU DEUS EU PRECISO DE UMA FOTO PERFEITA DESSA CRIANÇA PARA OS PAIS FICAREM FELIZES.
Mas então eu fiz um aniversário de gêmeas COMPLETAMENTE DIFERENTES, mas uma coisa elas tinham em comum: o ódio pela foto. A frase “VAMOS AQUI TIRAR UMA FOTO” simplesmente aterrorizava as duas. E nesse momento me bateu aquele desespero de os pais não gostarem das fotos, porque eu não tinha UMAZINHA com elas uma do lado da outra paradinhas.
E aqui agora editando essas fotos eu pensei: MAS GENTE, OS PAIS NÃO TEM DUAS FILHAS QUE AMAM FOTO, uma é mais risonha e a outra nem tanto, então é isso que eles tem que lembrar daqui 20 anos. É isso que as meninas têm que perceber, o quanto elas eram diferentes e o fato de não gostarem de fotos é parte delas, então tá tudo bem daqui a 20 anos elas olharem essas fotos e saberem o quanto elas mudaram – ou não.
Você que não nasceu após 2000 como todas as crianças e adolescentes que encontramos por aí e nos fazem sentir velhos. Isso, você mesmo que quase não comemora mais o seu aniversário porque tá trabalhando demais e seu dia quase sempre cai durante a semana.
Você já chegou na casa dos seus pais ou avós e foi olhar algumas fotos antigas de quando você e seus primos eram apenas crianças? Quem nunca? Aquelas fotos mesmo.. todas meio embaçadas, aquelas com umas luzes estranhas que hoje em dia os fotógrafos adoram copiar e chamar de ‘vintage’ (eu inclusive rs). Aquelas com dedo na frente da cara de alguém porque não dava pra ver como ia ficar a foto, só depois de quase um mês quando elas eram reveladas e a gente colocava em um álbum com data e colantes divertidos.
É, se você for pensar é estranho como a gente achava normal todo esse processo. E se divertia até esperando ansiosamente pra ver se a foto tinha dado certo. E se não ficou, sinto muito, já era. Que privilégio temos nós hoje.. toda essa rapidez. Se não gostou da foto já apaga e tira mais uma – mais duas, mais trezentas. Mas pensa comigo: quando você sentava na sala e olhava as fotos, quais eram as que mais lhe faziam rir? JUSTAMENTE aquelas todas erradas, quando um olho estava aberto e o outro fechado. Ou quando a prima mais velha empurrava a mais nova e bem na hora a tia do pavê tirava a foto. E era muito massa poder rir disso depois, é aquilo que juntava as pessoas, que causava o riso espontâneo, criava as memórias e fazia a gente falar: NOSSA, LEMBRA DESSE DIA? DEU TUDO ERRADO! E rir.
Sabe, as vezes eu sinto que em uma era de fotos perfeitas, fotos que você posta para todos curtirem, as crianças de hoje não vão ter fotos para rir daqui 15.. 20 anos. Elas vão somente ter as fotos dos ‘mini ensaios’ de páscoa.. natal.. ano novo.. ação de graças.. dia do índio. Eu, como fotógrafa, percebi que a gente precisa fazer ‘fotos ruins’ também. Não são fotos com luz errada, ângulo errado, mas sim aquelas com momentos que normalmente a gente excluiria. Um dedo no olho, uma cara de culpado porque fez algo errado, uma cara de assustado porque levou bronca.. o choro legítimo de uma criança que não ta querendo entrar na igreja, qualquer coisa que não seja perfeita, mas sim natural. Essas são as fotos que que vão reunir uma família depois do almoço na sala para ver como as coisas eram. Porque eu tenho certeza que daqui uns anos isso tudo também já vai parecer antiquado, mas uma coisa que eu sei que nunca deixará de existir é a foto, e essa pessoal, uma vez tirada, não muda.
